quinta-feira, 25 de março de 2010

Planejamento e escolas democráticas

Com a idéia de gestão democrática na escola, implantada no Brasil especialmente a partir da década de 1990, as comunidades escolares hoje são interpeladas a elaborar, executar e avaliar projetos educacionais, tais como o Projeto Político Pedagógico da escola - PPP, o Projeto de Ensino-Aprendizagem, o Plano de disciplina (e por que não falar interdisciplinar?!) e o Plano de aula. Mas nem sempre foi assim.

Enquanto pesquisava sobre planejamento, encontrei a seguinte informação num livro de didática reeditado pela vigésima primeira vez, em fins de ditadura militar, ano de 1984:

"O planejamento em grau superior, isto é, planejamento do ensino não cabe ao professor, e sim aos órgãos do governo encarregado de dirigir a Educação. O plano de curso às vezes é deixado por conta do professor. Mas o plano de aula e o de unidade ou de trabalho são tarefas essenciais do mestre" (FONTOURA, 1984, p. 186).

Na citação acima vemos claramente que o planejamento de ensino era competência do Estado, que o educador até podia pensar no plano de curso, mas sua obrigação mesmo era planejar a aula. Este foi um modelo de gestão escolar totalmente verticalizado e centralizador, no qual um plano de ensino ou uma proposta pedagógica era imposto de cima para baixo, nivelando a todos e ignorando o contexto de cada escola. Esta centralização provavelmente já existia mesmo antes da ditadura militar de 1964-1985 e pelo fato desta perspectiva persistir por muito tempo na educação brasileira, temos dificuldade, no momento, de compreender a necessidade de participar da sistematização e condução dos projetos na escola, em parceria com outros sujeitos. Senão, vejamos:
• O planejamento tem sido uma prática comum entre nós?
• O que planejamos na escola?
• Participamos da Elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola? Pelo menos temos acesso ao mesmo?
• O Projeto Político Pedagógico serve como referência para o planejamento da disciplina e das aulas?

Quando o educador não compreende o sentido do planejamento, nem sabe planejar, de acordo com Vasconcelos (2007), o mesmo se encontra em estado de alienação, isto é, lhe falta a compreensão e o domínio nos vários aspectos da tarefa educativa:

"(...) ao educador falta clareza com relação à realidade em que ele vive, não dominando, por exemplo, como os fatos e fenômenos chegaram ao ponto em que estão hoje (dimensão sociológica, histórico-processual); falta clareza quanto à finalidade daquilo que ele faz: educação para quê, a favor de quem, contra quem, que tipo de homem e de sociedade formar etc (dimensão política, filosófica) e, finalmente, falta clareza, como apontamos antes, à sua ação mais específica em sala de aula (dimensão pedagógica). Efetivamente, faltando uma visão de realidade e de finalidade, fica difícil para o educador operacionalizar alguma prática transformadora, já que não sabe bem onde está, nem para onde quer ir" (VASCONCELOS, 2007, p.25).

Para Vasconcelos (2007) , o professor alienado foi expropriado do seu saber e esta situação o desumaniza, deixando-o à mercê de pressões, ingerências, de modelos impostos como receitas prontas. E mais.... “Se o trabalho do professor está marcado muito fortemente pela alienação, é claro que não verá o menor sentido no planejamento”.

Superar esta condição de alienação é o primeiro passo para darmos início à construção de escolas realmente democráticas. E isso acontecerá quando compreendermos que planejamento pode ser utilizada como ferramenta de transformação e que a mudança para uma sociedade mais justa e igualitária só pode acontecer se todos participarem, tendo em vista a defesa dos interesses da maioria, resultado do consenso.

Referências
FONTOURA, Amaral. Didática Geral. 21. ed. Rio de Janeiro: Aurora, 1984.
VASCONCELOS, Celso dos Santos. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. 17. ed. São Paulo: Libertad, 2007.

10 comentários:

Anônimo disse...

O texto é muito esclarecedor,pois por meio dele é possível percerber a importancia da participação e do envolvimento da escola e da comunidade na construção do PPP.Ainda é possível refeletir sobre o quanto a sociedade tem pouco conhecimento do PPP e de como ele pode melhorar a qualidade de ensino.
Amanda Silva, estudante de Pedagogia da Faculdade Evengélica de Salvador.

Anônimo disse...

O objetivo do texto é esclarecer ao mesmo tempo que chama atenção para a responsabilidasde não só dos educadores, mas principalmente de uma sociedade que não se preocupa com seus direitos visando um ensino melhor.Rosanna Santos (Facesa)

Anônimo disse...

O texto relata sobre a importancia da elaboração do PPP nas escolas e da participação dos professores, comunidade e família na construção do mesmo.Dessa forma, o educador não poderá ficar ausente na construção desse documento, pois dependerá do mesmo para planejar as suas aulas.

Educanda- Janice de Santana Carvalho Pedagogia -turma 8

Anônimo disse...

Professor, fiquei encantada com essa postagem, pois com ela pude perceber a grandiosidade do documento (PPP), o poder que o professor tem nas mãos, o poder da transformação.
Acredito que esse documento deveria ser mais visitado, mais divulgado para que dessa forma, o professor deixe de ser alienado, criando assim, um mundo mais real e justo na escola.
Débora Cardoso, graduanda do curso de Pedagogia da Faculdade Evangélica de Salvador, do 7º semestre, tendo como orientador o professor Francisco Sales

Anônimo disse...

Eu achei o assunto abordado no blog bastante rico e interessante,onde eu pude perceber como é importante o PPP, Projeto Politico Pedagogico implantado nas escolas, tendo como finalidade elaborar, executar e avaliar projetos educacionais essa é a ideia de gestão democratica na escola. sua aluna Tânia.

Anônimo disse...

Segundo as falas representadas no Blog Planejamento e Escolas Democráticas, foi possível perceber que o planejamento que era realizado nas escolas antes de 1990 não contemplavam a gestão democrática e participativa da comunidade em torno da escola, o que por sua vez trazia comprometimento com relação a realidade vivida pelo seu corpo docente. Por conseguinte faz-se necessário uma reavaliação da importaçia de uma gestão participativa com o objetivo da implementação de um PPP democrático e participativo.

Anônimo disse...

Este texto reflete a importância de planejar e a participação da comunidade no PPP.
Segundo Vasconcelos(2007), o professor deve ser um artesão,pois o educador tem que dominar o conteudo que será trabalhado em sala.
Educanda:Rosineide Ferreira.

Osimara Barros disse...

O planejamento realmente é um instrumento que nos direciona para uma meta especifica. Como educadores precisamos saber onde queremos chegar na formação de educandos enquanto cidadãos, nesse caso, o planejamento torna-se essencial. Também porque a escola é o espaço onde sistematizamos a educação, nesse sentido o planejamento é um instrumento não só de organização política, mas engloba toda a amplitude da educação.

Osimara (FACESA - turma 09)

Anônimo disse...

Os textos abordados no blog são
bastantes relevantes para a construção de um PPP de qualidade.
É fundamental o planejamento para definir a hegemonia da aprendizagem.
Mariza Silva,estudante de pedagogia
turma 09

Mônica disse...

O planejamento é de fundamental importância para a Instituição educacional, pois auxilia o professor a refletir e definir a melhor maneira de cumprir seus objetivos sem improvisações, visando o pleno desenvolvimento do aluno para que ele possa crescer como pessoa e como cidadão.
Educanda Mônica Piedade
FACESA -Faculfade Evangélica de Salvador

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