quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Alícia Fernández: história, fundamentos e atuação

A história de Alicia Fernández (1) se confunde com a História da Psicopedagogia na América Latina. Sabemos que a Psicopedagogia teve sua origem na Europa, chegou à América Latina por meio da Argentina, país este que influenciou diretamente o Brasil. Alicia Fernández, ao lado de Sara Paim, Jorge Visca, dentre outros intelectuais, é um exponencial na promoção da Psicopedagogia no Brasil e em outros países, colaborando diretamente com a formação de parte dos profissionais na área de Psicopedagogia por meio de produções escritas, assessoria a instituições públicas e privadas, docência em cursos de especialização latu sensu, congressos, dentre outros.

Alicia Fernández formou-se em Psicopedagogia (2) pela Facultad de Psicopedagogía da Universidad del Salvador, Buenos Aires, Argentina. Cursou Psicologia na mesma universidade, mantendo contato com a psicanálise por meio de Pichon Rivière e Bleger. Além disso, especializou-se em Psicopedagogia Clínica e em Psicodrama. Durante sua formação inicial e continuada consolidou o referencial teórico que servirá de base para suas contribuições teóricas e práticas no campo da Psicopedagogia, a exemplo da psicanálise e do psicodrama.

O currículo profissional de Alicia Fernández é extenso, demonstrando total dedicação à Psicopedagogia e a relevância de sua atuação nesse sentido.

De 1962 a 1974, após formação inicial, trabalhou como orientadora educacional junto a populações carentes na Argentina.

Realizou trabalho de assessoria em atividades psicopedagógicas em inúmeras instituições educacionais e de saúde nos estados de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Goiânia (Brasil) e estados de Buenos Aires, Córdoba, San Juan e Rio Negro (Argentina).

Desenvolveu experiência grupal com base psicanalítica de revisão da modalidade de aprendizagem e ensino do psicopedagogo e do educador de sala de aula.

Atuou como diretora da Escuela Psicopedagógica de Buenos Aires, uma escola de Formação em Psicopedagogia Clínica, especialização latu sensu, tendo psicólogos, médicos, pedagogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos como público alvo.

É supervisora de atividades psicopedagógicas em vários hospitais públicos e privados de Buenos Aires.

Atualmente dirige a E.Psi.B.A., que originalmente se chamava Escuela Psicopedagogica de Buenos Aires. Depois do crescimento de sua abrangência passou a se chamar Espacio Psicopedagogico Brasil Argentina e atualmente, diante de sua sua permanente expansão, passou a ser o Espacio Brasileño-Argentino-Uruguayo.

É consultora em instituições de formação na Argentina, Uruguai, Brasil, Espanha e Portugal.

Enquanto pesquisadora tem realizado investigações a respeito dos “Fatores possibilitadores da aprendizagem na população com necessidades básicas insatisfeitas, projeto aprovado pelo Ministério da Saúde e da Ação Social da Argentina. De acordo com EPSIBA (2011), investiga também sobre hiperatividade e déficit de atenção na infância e, junto a Jorge Gonçalves da Cruz, coordena a investigação “Situação Pessoa Prestando Atenção” (SPPA), uma pesquisa como o objetivo de identificar as modalidades atencionais nos contextos atuais, tendendo a gerar uma reconceitualização do conceito tradicional de “atenção” e de “hiperatividade” que propicie ferramentas de reflexão e intervenção psicopedagógicas, estendidas no campo clínico e educativo. Esta pesquisa conta com a participação, em rede, de 50 profissionais residentes em diversos países de América e Europa (3).

Conforme CEPAI (2011), Alicia Fernández iniciou suas pesquisas, “por meio do trabalho de Sara Pain, dando continuidade a partir de investigações próprias, enfatizando o trabalho com grupos de crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem. Vem realizando importantes investigações no plano da utilização de técnicas psicodramáticas com base psicanalítica”.

Notamos que suas publicações estão intimamente ligadas a inquietações que surgiram por ocasião de sua atuação profissional, a exemplo da publicação do livro “A inteligência aprisionada”, em 1987. O mesmo foi sistematizado a partir do atendimento que Alicia Fernández realizou junto à população carente em Hospital Público na Grande Buenos Aires, quando criou e dirigiu um Centro de Aprendizagem.

Em entrevista concedida no ano de 2008 à revista Direcional educador, Alicia Fernández comentou que em “A inteligência aprisionada” apresenta: “(...) fundamentos de como a família pode ser possibilitadora ou produtora de problemas de aprendizagem dos filhos, e deste modo, estruturo um modelo de diagnóstico interdisciplinar familiar, que venho utilizando em diversos países”. (FERNÁNDEZ, 2008).

Em “A mulher escondida na professora”, a referida autora fundamenta o lugar e a importância dos professores, tanto como agentes de saúde na aprendizagem, como às vezes, - ainda que sem propor a sê-lo - desencadeadores de problemas de aprendizagem”. (FERNÁNDEZ, 2008). Conforme Marangon (2008), este livro é fruto de estudo realizado entre 1986 e 1989 com crianças e jovens menores de 14 anos, motivado pelo observação de Alicia em relação ao número de casos de dificuldades de aprendizagem que atendia em seu consultório com maior incidência entre meninos. O estudo comprovou que 70% dos casos eram do sexo masculino e uma vez constato que o fenômeno acontecia noutros países, passou-se a investigar sobre o assunto.

No Brasil, além destes livros, Alicia Fernández publicou pela editora Artes Médicas: “Os idiomas do Aprendente” e “O Saber em jogo”; Por meio da editora Vozes, “Psicopedagogia em Psicodrama – morando no Brincar”.

De acordo com EPSIBA (2011), em setembro de 2011, Alicia Fernández publicou pela Editora Artes Médicas seu mais novo livro: A capacidade de atenção, editado também em espanhol (La tencionalidad Atrapada – pela editora Nueva Visión).

Para Camargo (2008) Alicia Fernández fez-se uma referência para psicólogos, pedagogos e psicopedagogos de vários países. “(...) Suas abordagens – em livros e palestras – sobre autoria do pensamento e modalidades do conhecimento enfrentam as causas mais comuns dos traumas infantis e põem em xeque as relações entre professores, pais, instituições de ensino e poder público.

Para o referido autor, uma das contribuições relevantes de Alicia Fernández, foi apresentar a Psicopedagogia “(...) como uma disciplina com um objeto próprio: a autoria do pensamento e como um acionar dirigido a sujeitos, por ela conceitualizados como "aprendente" e "ensinante".

CEPAI (2008) aponta outra contribuição de Alicia Fernández para a Psicopedagogia ao afirmar que com uma larga experiência de trabalho com famílias, grupos e instituições de saúde e educação, a autora construiu um modelo próprio de diagnóstico psicopedagógico chamado “Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem em uma só jornada” (DIFAJ), utilizando-o em diversos hospitais públicos e privados de vários países latino-americanos.

Já para Silva (2010):
Alicia Fernandez desenvolve um conceito muito importante para a psicopedagogia, o de modalidade de aprendizagem, que é uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e para conformar seu saber. É construída desde o nascimento a partir das relações familiares e situações de aprendizagem durante a vida. (...)Desta maneira a psicopedagogia olha para o sujeito em sua individualidade, mas integrado nos grupos a que pertence (familiar, social, escolar, etc...) e busca encontrar sua pecualidade como aprendente, ou seja, a modalidade de aprendizagem que lhe é própria. O que lhe interessa são as diferenças que possibilitam compreender o indivíduo como único, apesar de poder estar inserido num determinado tipo de modalidade de aprendizagem.

Finalmente, a própria Alicia Fernández, em entrevista concedida à revista Direcional Educador, em 2008, reflete sobre o conceito de autoria do pensamento ao afirmar que:
Nós, humanos, aprendemos a partir de identificações com nossos ensinantes, e somente em um ambiente familiar, e depois, no escolar e social, que nos aceite como seres pensantes. Quero dizer, que permita e favoreça nossas perguntas, dê lugar à diferença, em síntese, que favoreça a autoria de pensamento. A inteligência se constrói, a atividade de pensamento se constrói, como também a atenção e a capacidade de se prestar atenção.

Conhecendo um pouco da história e das contribuições práticas e teóricas realizadas por Alicia Fernández compreendemos a relevância de seu empenho para a formação de psicopedagogos e outros profissionais interessados pelo processo de aprendizagem, buscando instrumentos de intervenção quando as dificuldades da aprendizagem surgirem.

Referências
CAMARGO, Gilson Camargo. Escrito na pele – Entrevista com Alicia Fernández. Jornal Extra Classe. Ano 13. N. 27. Setembro de 2008. Disponível em . Acesso em: 09 Dez. 2011.

CEPAI. Personalidades: Alicia Fernández. Disponível em < http://www.cepai.com.br/sobre_personalidades.php#Alicia>. Acesso em: 07 Dez. 2011.

EPSIBA. Espacio Psicopedagógico de Buenos Aires. Cursos à distância. Disponível em < http://www.epsiba.com/previewactividad.php?id=11>. Acesso em: 08 Dez. 2011.

FERNANDEZ, Alícia. Entrevista: Alicia Fernández. Entrevista realizada por Luiza Oliva em 2008. Disponível em: . Acesso em: 08 Dez. 2011.

MARANGON, Cristiane. Aprendizagem também é uma questão de gênero: entrevista com Alicia Fernández. Revista Nova Escola. 17 Nov. 2008. Disponível em: . Acesso em 06 Dez. 2011.

NOTAS
(1)   Alicia Fernández, nascida em Buenos Aires – Argentina, no ano de 1944, é filha de pai espanhol e mãe Italiana.
(2)   Na Argentina, a Psicopedagogia corresponde a uma graduação com duração de aproximadamente cinco anos.
(3)   EPSIBA (2011) apresenta uma espécie de currículo lattes de Alicia Fernández:
·         Docente na Universidad de Buenos Aires (Pós-graduação da Faculdade de Psicologia) e Professora Titular das materias “Diagnóstico Psicopedagógico” e “Tratamento Psicopedagógico” da Universidad del Salvador (Faculdade de Psicopedagogia).
·         Docente convidada em numerosas Universidades e Associações da América Latina e Europa: Technische Universität de Berlin, Association Gree Groupe Européen de Recherche en Evaluation Education et Réadatation de Francia, Faculdade de Ciências da Educação de Lisboa Portugal, Pontificia Universidade Católica de São Paulo, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Universidade de Passo Fundo, Universidade Regional Do Noroeste Do Estado Do Rio Grande do Sul, Universidad de la República de Uruguay, Universidad Nacional de Lomas de Zamora, Universidad de Morón, Universidad Nacional del Comahue, Universidad Nacional de la Rioja, Universidad Nacional de San Juan, Universidad Nacional de San Luis; entre outras.
·         Fundadora e co-diretora de E.Psi.B.A. Espaço Psicopedagógico Brasileiro-Argentino-Uruguaio.
·         Coordenação de grupos de formação de profissionais das áreas de saúde e educação em diversas cidades da Argentina, do Uruguay, do Brasil e de Portugal.
·        Título Membro Honorário da Associação Nacional de Psicopedagogia do Brasil.
·         Distinção Membro de honor da Associação de Psicopedagogos de Neuquén.
·        Assessora de numerosas instituições educativas de gestão privada e assessora de atividade psicopedagógica em Hospitais de gestão pública e privada.
·         Fundadora do centro de aprendizagem do Hospital Nacional "A. Posadas", Buenos Aires, Argentina.
·        Ex Assessora da Secretaria de Educação do Município de Porto Alegre, Brasil.


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Psicopedagogia - Uma linha do tempo

Surgimento da Psicopedagogia – Hipóteses de períodos
Europa, século XIX – Nascimento da Psicopedagogia – Filósofos, médicos e educadores preocupados com os problemas de aprendizagem.
Europa, década de 1920 – Instituição do Centro de Psicopedagogia baseado no pensamento psicanalítico de Lacan (Andrade, 2004).
Europa, Paris, 1946 – Criação dos primeiros Centros Psicopedagógicos na Europa por Juliette Favez-Boutonier e George Mauco (Bosa, 1994; Masini et al,1993).
A Psicopedagogia nos EUA e na Argentina
Século XX, Estados Unidos – surgimento dos primeiros centros de reeducação para delinqüentes infantis. Crescimento quantitativo de escolas particulares e de ensino individualizado para crianças classificadas pela aprendizagem lenta.
1930, França – Surgimento dos primeiros centros de orientação infantil, com equipes formadas por médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais e voltadas para a reeducação de crianças com dificuldades de aprendizagem (perspectiva médico-pedagógica).
Década de 1950, América do Sul – Surgimento da psicopedagogia na Argentina (1956) enquanto formação universitária. Precursores: Arminda Aberastury e Jorge Visca (Pai da Psicopedagogia = definiu a Psicopedagogia enquanto área do conhecimento).
1960, Argentina – Jorge Visca criou o Instituto de Psicopedagogia da Argentina.
Década de 1970, Buenos Aires – Surgimento dos Centros de Saúde Mental (diagnósticos e tratamentos psicopedagógicos).
A Psicopedagogia no Brasil
Década de 1960, Brasil – Autores brasileiros iniciam reflexão sobre a Psicopedagogia, preocupados especialmente com as deficiências que geravam problemas de aprendizagem.
 Década de 1970, Brasil – A Psicopedagogia chegou ao Brasil sob a influência do pensamento argentino. Criação dos primeiros cursos com enfoque psicopedagógico na PUC, São Paulo. Criação do primeiro curso regular em Psicopedagogia (1979 – Instituto Sedes Sapientiae).
Década de 1980, Rio de Janeiro, Brasil – Criação da Escola Guatemala (Trabalho de ação preventiva junto aos educadores = busca de saídas para impropriedades de ensino). Surgimento dos cursos de especialização Lato Sensu em Psicopedagogia em São Paulo, posteriormente noutras regiões do Brasil.
1980, São Paulo - Criação da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (Amorim, 2011).
A Psicopedagogia no Estado do Mato Grosso do Sul
1994, Mato Grosso do Sul – Oferta do primeiro curso de Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Católica Dom Bosco.
2003 – Oferta do curso de Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional no interior do Mato Grosso do Sul.
Referências
AMORIM, Elaine Soares de. Psicopedagogia: Regulamentação e Identidade Profissional. Disponível em:
Pos/article/viewPDFInterstitial/208/208>. Acesso em: 28 Nov. 2011.
BROSTOLIN, Marta. Psicopedagogia: histórico, fundamentos e atuação. Portal Educação/ Universidade Católica Dom Bosco: Mato Grosso do Sul, 2011.

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