quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Educação romana: a humanitas

PEDAGOGIA
+ Nas sociedades escravistas de Roma e Grécia o trabalho manual é desvalorizado, enquanto o intelectual constitui privilégio da aristocracia. Assim: os educadores buscam formar o homem racional, capaz de pensar corretamente e se expressar de forma convincente. (Modelo adequado à elite dirigente).

+ Enquanto na pedagogia grega há uma valorização da visão filosófica sistematizada ou o predomínio da retórica, em Roma, a reflexão filosófica não merece atenção de maneira sistemática, onde os romanos adotam uma postura mais pragmática, voltada para o cotidiano, para a ação política e não para a contemplação e teorização do mundo (Domínio da retórica sobre a filosofia).

O que é humanitas
+ Roma desenvolve a concepção de império formado de vários povos. Não discrimina o vencido e ainda lhe confere o direito da cidadania romana, em troca do pagamento de impostos.
+ Humanitas: cultura universalizada. Equivale à Paidéia, distingue-se dela por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e, sobretudo cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracteriza o homem, em todos os tempos e lugares. Concepção que não se restringe ao ideal de homem sábio, mas se estende à formação do homem virtuoso, como ser moral, político e literário.

Degeneração do termo humanitas = acontece com o tempo e restringe-se ao estudo das letras e descuido das ciências.



Principais representantes
A pedagogia em Roma está voltada para questões práticas. Surge por volta do século I a.C com Cícero, Sêneca e Quintiliano.

Catão, o antigo (234-149 a.C.): defende a tradição contra o início da influência helênica e o retorno às raízes romanas.

Varrão (116-27 a.C.): representa a transição pela qual os romanos terminam por aceitar a contribuição grega. Seu trabalho é prático. Escreveu uma enciclopédia didática, em que discute o ensino de gramática e que serve de base para trabalhos posteriores. Compôs sátiras, que orientam o jovem na virtude, com máximas edificantes.

Cícero (106-43 a.C.): ampliou o vocabulário latino, apoiado na experiência com o grego e na erudição. Valorizou a fundamentação filosófica do discurso, o que o diferencia de seus conterrâneos, tornando-o um dos mais claros representantes da humanitas romana. Compreendia que a educação integral do orador requer cultura geral, formação jurídica, aprendizagem da argumentação filosófica, bem como o desenvolvimento de habilidades literárias e até teatrais, igualmente importantes para o exercício da persuasão.

Cícero chegou a ser um dos principais modelos dos pedagogos renascentistas.

Sêneca (4 a.C.–65): Vê a filosofia como um instrumento capaz de orientar o homem para o bem viver. A filosofia teria a função de ensinar a verdadeira vida humana, que não se confunde com o gozo dos prazeres, voltada que está para o domínio das paixões, já que a felicidade consiste na tranqüilidade da alma. Por isso a educação deve ser prática e vivificada pelo exemplo.

Sêneca compreende que a educação prepara o homem para o ideal de vida estóico: o domínio dos apetites pessoais. à Enfatiza a formação moral e dá menos importância à retórica. Ocupa-se da psicologia como instrumento para a preservação da individualidade.

Plutarco (45 – 125): Reconhece a importância da música e da beleza na educação, bem como a formação do caráter.

Quintiliano (35-95): Foi um dos mais respeitados pedagogos romanos. Lecionou durante 20 anos na escola de retórica, fundada em Roma.

Quintiliano:
+ Distancia-se da filosofia, preferindo os aspectos técnicos da educação, sobretudo da formação do orador.
+ Valoriza a psicologia como instrumento para conhecer a individualidade do aluno. Não se prende a discussões teóricas, mas procura fazer observações técnicas i indicações práticas.
+ Sugere, para iniciação às letras, o ensino simultâneo da leitura e da escrita, criticando as formas vigentes por dificultar a aprendizagem.
+ Recomenda alternar trabalho e recreação para que a atividade escolar seja menos árdua e mais proveitosa.
+ Considera importante que a criança aprenda em grupo, por favorecer a competição, de natureza altamente saudável e estimulante.
+ Recomenda a prática dos exercícios físicos, realizada sem exageros.
+ Valoriza a busca da clareza, a correção, a elegância e os clássicos como Homero e Virgílio no estudo de gramática, reconhecendo os aspectos estético, espiritual e ético.
+ Destaca a importância da instrução geral e dos exercícios que tornarão a aprendizagem uma segunda natureza.


Outras tendências
Com a desagregação do império romano:
+ O império do Oriente começa intensa vida cultural e religiosa, durante todo o período subseqüente. Constantinopla será o local da efervescência intelectual, em que inúmeros copistas aperfeiçoam cuidadosas técnicas de reprodução de obras clássicas.
+ Cresce a importância da educação cristã. Inicialmente restrito ao âmbito doméstico, o cristianismo se expande e se torna religião oficial. Surgem os teólogos, que adaptam os textos clássicos pagãos à verdade revelada.


EDUCAÇÃO
Introdução
Fases da educação romana:1. Latina original, de natureza patriarcal;
2. Influência do helenismo criticada pelos defensores da tradição;
3. Fusão entre a cultura romana e a helenística.

A fusão das culturas romana e helenista estimulam o bilingüismo: as crianças passam a aprender grego e latim.
Em todas as épocas permanecem alguns aspectos da antiga educação: o papel da família, representado pela onipotência paterna (não destituída de afeto); a ação efetiva da mulher (célebre tipo da “mãe romana”).


Educação heróico-patrícia
+ Os aristocratas patrícios (proprietários e guerreiros) recebem uma educação que visa perpetuar os valores da nobreza de sangue e cultuar os ancestrais.

+ Na Antiguidade, a família não era nuclear como a nossa, mas extensa (composta por pais, filhos solteiros e casados, escravos e clientes dos quais o paterfamilias é proprietário, juiz e chefe religioso).
+ Até os sete anos as crianças permanecem sob os cuidados da mãe ou de outra matrona, “mulher especial”.
+ Depois dos sete anos, as meninas continuam no lar aprendendo os serviços domésticos, enquanto o pai se encarrega pessoalmente do filho.
+ O menino acompanha o pai às festas e aos acontecimentos mais importantes, ouve o relato das histórias dos heróis e dos antepassados, decora a Lei das Doze Tábuas, desenvolvendo a sua consciência histórica e o patriotismo.
+ O menino aprende a cuidar da terra, trabalho que coloca lado a lado o senhor e o escravo. Aprende a ler, escrever e contar. Torna-se hábil no manejo das armas, na natação, na luta e na equitação.
+ Aos 15 anos, o menino acompanha o pai ao foro, praça central onde se faz o comércio e são tratados os assuntos públicos e privados, e em torno do qual se erguem os principais monumentos da cidade, inclusive o tribunal, onde aprende o civismo.
+ Aos 16 anos, o jovem é encaminhado para a função militar ou política. (Educação voltado mais para a formação moral, que intelectual) à Aprendizagem baseada na vivência cotidiana, entremeada de exemplos que reforçam a importância da imitação de modelos representados pelo pai e pelos antepassados.

Educação cosmopolita
+  Roma republicana: desenvolvimento do comércio, enriquecimento de uma camada de plebeus e início da expansão romana tornam mais complexa a sociedade romana, exigindo outro modo de educar.
+ Século IV a.C: criação de escolas elementares particulares – escolas do ludi (jogo, divertimento) magister (mestre), nas quais aprende-se demoradamente a ler, escrever e contar, dos sete aos doze anos. Os mestres eram pessoas simples e mal remuneradas. Para desempenhar seu ofício, ajeitavam-se em qualquer espaço. As crianças escreviam com estiletes em tabuinhas enceradas, aprendendo tudo de cor, ameaçados por castigos.

+ Com o contato com os povos helênicos, inúmeros professores gregos ensinam a sua língua, dando início à formação bilíngüe dos romanos.

+ Surgiram as escolas dos gramáticos, em que os jovens de 12 a 16 anos conheciam os clássicos gregos, ampliando seus conhecimentos literários. Ao mesmo tempo estudavam geografia, aritmética, geometria e astronomia (disciplinas reais). Iniciavam-se na arte de bem escrever e bem falar.

+ Surge um terceiro grau de educação (escola do retor = professor de retórica), pois a retórica exigia o aprofundamento do conteúdo e da forma do discurso. Diferentemente dos ludi magister e dos gramáticos, os retores eram professores mais respeitados e bem remunerados.

+ As escolas superiores:
- Desenvolveram-se no decorrer do século I a.C e cresceram durante o Império.
- Eram freqüentadas pelos jovens da elite, que se destacavam na vida pública e que, por isso, deveriam se preparar para as assembléias e tribunas. Estudavam política, direito e filosofia, sem esquecer as disciplinas reais, próprios de um saber enciclopédico.

+ A educação física mereceu a atenção dos romanos, mas com características mais voltadas para as artes marciais.


Educação no império
+ Aumenta a intervenção do Estado nos assuntos educacionais: uma bem montada máquina burocrática para a administração do império requeria funcionários com instrução elementar, pelo menos.
+ Notável procura por cursos de estenografia (taquigrafia) – sistema de notação rápida. Recurso exigido cada vez mais na atividade dos notários (hoje conhecidos como tabeliões, mas inicialmente eram apenas secretários incumbidos de fazer anotações, ao acompanhar os magistrados e altos funcionários).

+ Século I a.C: o Estado estimulou a criação de escolas municipais em todo o Império. O próprio César concedeu o direito de cidadania aos mestres de arte liberais.

+ Século I d.C: Vespasiano libera de impostos os professores de ensino médio e superior e institui o pagamento a alguns cursos de retórica, de que beneficia o mestre Quintiliano. Trajano manda alimentar os estudantes pobres. Outros importantes imperadores legislam sobre a exigência de as escolas particulares pagarem com pontualidade os professores, definindo o montante a lhes ser pago.

+ Juliano, no ano 362, oficializou toda a nomeação de professor pelo Estado. Opunha-se à expansão do cristianismo e pretendia, impedir a contratação de professores cristãos, com essa medida.
+ Outro destaque da época do Império é o desenvolvimento do ensino terciário, com os cursos de filosofia e retórica e a criação de cátedras de medicina, matemática, mecânica e escolas de direito.

Conclusão

+ ‘o papel histórico de Roma não foi criar uma nova civilização, mas implantar e radicar solidamente no mundo mediterrâneo a civilização helenística, pela qual ela mesma fora conquistada’. (MARROU apud ARANHA, 1996, p. 66).
+ Em todo o processo da evolução da História da Educação romana esteve presente certa lentidão no processo de aprendizagem, levado a efeito com métodos penosos de memorização, intercalados com castigos.
+ Na educação romana desvaloriza-se o trabalho manual, dando continuidade à valorização da formação intelectual da elite dominante.
+ A pedagogia romana baseou-se na tendência essencialista: a função da educação é realizar o que o “homem deve ser”. (Os modelos são importantes para os antigos).

Referência
ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna, 1996.

3 comentários:

Anônimo disse...

oi!!! sou uma estudante da área da pedagogia... e gostaria de agradecer muito pelos conteúdos, me ajudaram muito em atividades que estava em duvidas... os conteúdos são ótimos e claros... Muito obrigada....

Unknown disse...

Sou uma aluna do curso de pedagogia e quero agradecer muito obrigada pelo os conteúdos que me ajudou bastante a ter ideias e informações sobre educação romana. Obrigada

Anônimo disse...

muito bom

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