sexta-feira, 30 de abril de 2010

Bourdieu e a Educação

Esta postagem é um resumo do texto de Alberto Tosi Rodrigues, publicado em 2007. Tal resumo serviu de subsídio para estudo a estudantes do Curso de Licenciatura em Pedagogia, quando lecionávamos Sociologia da Educação no segundo semestre de 2007.

BOURDIEU E OS ESQUEMAS REPRODUTORES
São questões a refletir a partir do pensamento de Bourdieu:
Será que a barreira da dominação social é intransponível?
Será que estamos condenados a reproduzir as estruturas indefinidamente?

Bourdieu é um dos principais sociólogos a analisar a educação contemporânea sob a influência do modelo de Durkheim.
Para levar a cabo a ambição de Durkheim de unificar as ciências humanas em torno da sociologia, Bourdieu introduziu uma síntese teórica entre o modelo durkheimiano e o estruturalismo.
O estruturalismo se conecta à sociologia de Durkheim na medida em que pretende desvendar o peso das estruturas sociais por trás das ações dos sujeitos. (O pensamento de Bourdieu é uma versão mais radical do modelo de Durkheim).
Para o estruturalismo (pensamento de Bourdieu na primeira fase de sua produção, década de 1960), os sujeitos são uma espécie de marionetes das estruturas dominantes, isto é, mesmo aqueles que pensem estar liberados das determinações sociais, são movidos por forças ocultas que os estimulam a agir, mesmo que não tenham consciência disso. (“condições objetivas” que o investigador deve desvendar, pois é nelas que residem as explicações).
Bourdieu compreende que a teoria de Durkheim e o estruturalismo permitem demonstrar como os indivíduos, em sua ação, apenas reproduzem as orientações determinadas pela estrutura social vigente.
Para Bourdieu, os sujeitos da ação estão ausentes daquele nível da sociedade em que são objetivamente determinadas as suas ações. O sujeito não existe. O que chamamos de ação é o processo pelo qual as estruturas se reproduzem. O sujeito está submetido aos desígnios da sociedade, faz o que as estruturas determinam, não sabe disso e ainda é iludido pelos discursos dominantes que o fazem pensar que sua ação é resultante de vontade própria.

Bourdieu e Passeron (em 1964) publicam os herdeiros, livro no qual pretendiam combater uma idéia muito comum na França da época, segundo a qual os estudantes e o meio estudantil seriam uma classe social à parte na sociedade. E seriam responsáveis, em razão de sua juventude e de sua disposição para a ação, pela liderança da transformação social.
Em maio de 1968, em Paris, estudantes franceses saíram às ruas, culminando num processo de mobilização que teria um alcance bem maior do que a capital francesa. Ironicamente o livro serviu como estímulo para essas mesmas revoltas estudantis, por seu aspecto crítico.

Idéias presentes no livro os herdeiros. Bordieu e Passeron:
+ Discordam do discurso dominante segundo o qual a conquista de uma “escola para todos”, de caráter igualitário, tornaria possível a realização das potencialidades humanas;
+ Compreendem que a instituição escolar dissimula por trás de sua aparente neutralidade a reprodução das relações sociais e de poder vigentes: encobertos sob as aparências de critérios puramente escolares, estão critérios sociais de triagem e de seleção dos indivíduos para ocupar determinados postos na vida;
+ Entendem que não há qualquer possibilidade de romper com as estruturas de reprodução e afirmam que as teorias pedagógicas são uma cortina de fumaça que procura ocultar o poder reprodutor do sistema que está nas mãos dos educadores. Para os referidos autores não há saída: o sistema de ensino filtra os alunos sem que eles se dêem conta e, com isso, reproduz as relações vigentes. Não há possibilidade de mudança.

Em 1970 Bourdieu e Passeron refinaram suas idéias, incorporando sistematicamente as idéias e Marx e Max Weber, publicando o livro “A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino”. A tese central do referido livro é: toda ação pedagógica é, objetivamente, uma violência simbólica.
Violência simbólica é a imposição arbitrária que, no entanto, é apresentada àquele que sofre a violência de modo dissimulado, que oculta as relações de força que estão na base de seu poder.
A ação pedagógica é uma violência simbólica porque impõe, por um poder arbitrário, um determinado arbitrário cultural.
Arbitrário cultural, concepção cultural dos grupos e classes dominantes, que é imposta a toda a sociedade por meio do sistema de ensino. Tal imposição não aparece jamais em sua verdade inteira e a pedagogia nunca se realiza enquanto pedagogia, pois se limita à inculcação de valores e normas.

A ação pedagógica implica o trabalho pedagógico (trabalho de inculcação daquele referido “arbitrário” que deve durar o bastante para que o educando “naturalize” seu conteúdo, encare-o como natural, como evidentemente correto em si mesmo, o bastante para produzir uma “formação durável”).

(...) Na medida em que o educando interioriza os princípios culturais que lhe são impostos pelo sistema de ensino – de tal modo que, mesmo depois determinada sua fase de formação escolar, ele os tenha incorporado aos seus próprios valores e seja capaz de reproduzi-los na vida e transmiti-los aos outros – Bourdieu diz que ele adquire um habitus. Uma vez que o arbitrário cultural a ser imposto é incorporado ao habitus do professor, o trabalho pedagógico tende a reproduzir as mesmas condições sociais (de dominação de determinados grupos sobre outros) que deram origem àqueles valores dominantes. (RODRIGUES, 2007, p.74).

O que explica, no pensamento de Bourdieu, a desigualdade que está na base do processo de seleção escolar?
A compreensão de que todo sistema de ensino institucionalizado visa, em alguma medida, realizar de modo organizado e sistemático a inculcação dos valores dominantes e reproduzir as condições de dominação social que estão por trás de sua ação pedagógica.

(...) Os autores, valendo-se de dados empíricos, demonstram que as “condições de classe de origem” dos alunos que entram no sistema de ensino francês determinam tanto a probabilidade de passagem ao nível escolar seguinte, quanto, ainda, o tipo de estabelecimento de ensino ao qual ele tem acesso (se de melhor ou pior qualidade). Tal situação se reproduz, do ensino básico ao médio e ao superior e determina também, no final das contas, a “condição de classe de chagada”, deste aluno, isto é, o tipo de habitus que adquiriu, o “capital social” ao qual teve acesso e, em especial, a posição na hierarquia econômica e social a que chegou. (RODRIGUES, 2007, p.74).

Referência
RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. 6. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

1 comentários:

Soraya Mendonça Marques disse...

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Espero que goste.
Adorei suas matéria, superinteressantes.

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