quinta-feira, 8 de abril de 2010

Seminário: entre conceitos e práticas

Conceitos e práticas
A combinação entre vivências e leituras sobre determinados procedimentos para o estudo é uma boa fórmula para a aprendizagem. Nesse sentido, as vivências permitem ver o alcance das indicações teóricas e as leituras fundamentam as ações.
Para nós, o aprendizado do seminário foi se consolidando graças às vivências que tivemos a respeito e às leituras que procuramos realizar, tendo em vista compreender mais ainda esta técnica para estudo em grupo.
Buscando conceitos sobre seminário, nossa compreensão passou a ter uma dimensão maior e o planejamento desta atividade ganhou contornos mais consistentes e ações potencializadas. Ver, por exemplo, a definição de Medeiros (2004), reforçou a idéia de que o seminário é um momento culminante do processo de pesquisa realizado por uma pessoa ou grupo, no qual conhecimentos são socializados e discutidos:

O seminário consiste em buscar informações, por meio de pesquisa bibliográfica ou de entrevista de especialistas, discussão em grupo, confronto de pontos de vista, formulação de conclusões. Realizado o trabalho inicial, leva-se o resultado a uma assembléia para discussão. Todos devem participar. Não é o seminário uma assembléia para relatar informações tão somente. (MEDEIROS, 2004, p. 31).

Nesta citação vemos também que no seminário, aqueles que comunicam os resultados das pesquisas não são meros transmissores de informações e idéias, mas mediadores da participação, isto é, favorecem um clima de debate entre expositores e platéia. Assim, os saberes podem se constituir em comunidade, coletivamente.
Concordando com Medeiros (2004), Lakatos e Marconi (2005) afirmam que o seminário é uma técnica de estudo que inclui pesquisa, discussão e debate e acrescentam que "(...) Essa técnica desenvolve não só a capacidade de pesquisa, de análise sistemática de fatos, mas também o hábito do raciocínio, da reflexão, possibilitando ao estudante a elaboração clara e objetiva de trabalhos científicos". (LAKATOS e MARCONI, 2005, p.35).
Compreendemos, então, que se esta técnica for realizada na perspectiva que temos defendido, favoreceremos entre nossos estudantes o desenvolvimento de procedimentos e atitudes de pesquisa, fundamento para ações de pesquisa a serem articuladas durante a elaboração de projetos e relatórios de pesquisa.

Objetivos e finalidades do seminário
Severino (1996) entende que o objetivo último de um seminário é levar todos os participantes a uma reflexão aprofundada de determinado problema, a partir de textos e em equipe. Para alcançar esse objetivo último, o seminário deve levar todos os participantes:
• A um contato íntimo com o tema básico, criando condições para uma análise rigorosa e radical do mesmo;
• À compreensão da mensagem central do texto, de seu conteúdo temático;
• À interpretação desse conteúdo, ou seja, a uma compreensão da mensagem de uma perspectiva de situação de julgamento e de crítica da mensagem;
• À discussão da problemática presente explicita ou implicitamente no texto.
Os itens apontados por Severino são excelentes critérios para avaliarmos o modo como temos direcionado o seminário em sala de aula e dicas relevantes para um redimensionamento, garantindo o desenvolvimento de habilidades apontadas pelo autor, tais como: análise metódica de temas, compreensão da mensagem central, análise e interpretação de dados e discussão de problemáticas.
Para Medeiros (2004), “(...) a finalidade do seminário é motivar para a pesquisa, é ensinar a aprender sem dependência do professor, monitor, orientador (...)”. Assim, destinamos ao seminário, assim como podemos tratar outras atividades de ensino-aprendizagem, o papel de favorecer gradativamente a autonomia [1], isto é, o aprender a aprender.


Atribuições no seminário
Quando propomos aos estudantes o desenvolvimento de atividades em grupo, vez por outra surge a queixa de que alguns colegas pouco colaboram. A divisão de responsabilidades no grupo tem sido uma das estratégias para superar este desafio. É interessante, nesse sentido, que isso aconteça logo nos primeiros encontros do grupo.
Lakatos e Marconi (2005) sugerem, na organização do seminário, as figuras de coordenador, organizador, relatores, secretário, comentadores e debatedores e informam as atribuições de cada um:
Coordenador: papel assumido pelo professor que: propõe temas a serem estudados; indica bibliografia inicial; estabelece agenda de trabalho; fixa duração das sessões: orienta as pesquisas; coordena a apresentação dos seminários, introduzindo o assunto geral e sintetizando as conclusões globais com a participação ou não da classe e do grupo expositor.
Organizador: figura que surge apenas quando o seminário é grupal e as tarefas são divididas entre seus integrantes. Suas principais atribuições são: marcar as reuniões prévias; coordenar as pesquisas e o material; designar os trabalhos a cada componente.
Relator(es): expõe os resultados dos estudos. Pode ser um elemento, vários ou todos do grupo.
Secretário: anota as conclusões parciais e finais do seminário, após os debates. Pode ser substituído pelo professor ou pelo organizador.
Comentador(es): pode ser um só estudante ou um grupo diferente do responsável pelo seminário. Estuda com antecedência o tema a ser apresentado com o intuito de fazer críticas adequadas à exposição, antes da discussão e debate dos demais participantes da classe.
Debatedor(es): correspondem a todos os alunos da classe. Participam depois da exposição e da crítica do(s) comentador(es), fazendo perguntas, pedindo esclarecimentos, colocando objeções, reforçando argumentos ou dando algumas contribuições. (LAKATOS e MARCONI, 2005, p.37).
Nesta sugestão vemos bem definido o papel do educador da disciplina e dos estudantes, visando a organização de todas as etapas da atividade, a garantia da participação e o estabelecimento permanente do debate, isto é, de possibilidades de construção coletiva do conhecimento.


Um roteiro para a organização do seminário
Quanto utilizamos a técnica de seminário na disciplina “História da Educação”, em 2008, reservamos um tempo em sala de aula para que os grupos pudessem se reunir, trocar idéias e planejar. Chamamos a este momento de oficina de seminário. Para nortear o trabalho nos grupos, apresentamos aos estudantes um roteiro com orientações e o disponibilizamos em suporte impresso. O roteiro que mencionamos é o seguinte:
A. Formação das equipes
O tema de nosso seminário é a História da Educação. No entanto, ele será estudado de maneira específica por meio de sub-temas distribuídos entre grupos. Os grupos já foram formados e os sub-temas distribuídos da seguinte forma:
07/04/2008 - Educação difusa;
14/04/2008 - Antiguidade oriental: a educação tradicionalista;
28/04/2008 - Antiguidade grega: a Paidéia;
05/05/2008 - Antiguidade romana: a humanitas;
12/05/2008 - Idade média: a formação do homem de fé;
19/05/2008 - Renascimento: humanismo e reforma.
B. Debate nas equipes
Uma vez constituídos os grupos, iniciaremos o debate em torno dos temas de seminários. Para isso, recomendamos a todos a leitura antecipada do texto-base indicado pelo professor e de outras referências levantadas por vocês, produzindo um resumo a ser entregue no primeiro dia da oficina.
Nesse momento de trabalho em grupos sugerimos que se realize a partilha de idéias que cada um considera importante e de dúvidas que surgiram por meio da leitura do texto-base. Enquanto isso, um secretário do grupo deve anotar as contribuições e entregar esse material para o professor. logo após o final do trabalho em grupo. O objetivo desse momento é estimular a aprendizagem colaborativa onde um enriquece o outro, partilhando suas idéias e dúvidas e ajudando-se mutuamente.
C. Elaboração do projeto de trabalho
Agora, nosso próximo passo é a elaboração do plano de trabalho, desenvolvendo as seguintes ações:

1. Escolher organizador, secretário, relatores, comentaristas e debatedores;


2. Registrar e organizar as idéias relevantes da temática (Resumo de idéias);


3. Programar pesquisa, tendo em vista o aprofundamento das idéias;


4. Definir como serão apresentadas as idéias e quais recursos poderão ser utilizados (Metodologia/Recursos);


5. Entregar ao coordenador do seminário (professor) o plano de trabalho. 


8. Concluindo
O relato que realizamos aqui é apenas um caminho que fomos trilhando para a realização de seminários. Nesse sentido, afirmamos que temos ainda muita curiosidade sobre o tema, desejando aprimorar cada vez mais esta técnica que, a nosso ver, possibilita o aprendizado significativo e colaborativo, pois se fundamenta em princípios como o aprender pela investigação e estabelecimento de comunidades de conhecimento.


Nota
[1] Para Demo (2000), “(...) a autonomia se forma com a colaboração/intervenção dos outros (...) A ligação talvez mais forte do saber pensar é a gestação da autonomia. Esta, todavia, é fenômeno social tipicamente, não só individual. Precisa de orientação. De um lado para tornar-se autônoma toda pessoa precisa de ajuda. De outro, tornando-se autônoma, deve saber dispensar a ajuda (...) Saber pensar não combina com cidadania tutelada, aquela que nos quer massa de manobra, submissos e ignorantes. Nem combina com cidadania assistida, porque aceita apenas a assistência necessária e tem como ideal viver sem assistência. Combina com cidadania antecipada, aquela que sabe o que quer, por que quer e como quer”. (DEMO, 2000, p. 18-19).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
DEMO, Pedro. Saber pensar. São Paulo: Corteza/ Instituto Paulo Freire, 2000.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 20. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 1996.

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