A partir deste postagem estaremos publicando resumos do texto de Alberto Tosi, apresentando idéias da área de Sociologia de Educação produzidas por autores clássicos da Sociologia. O autor a inaugural esta série é Karl Mannheim... Boa leitura!
MANNHEIM E A LUZ NO FIM DO TÚNEL
Mannheim retoma a formulação de Weber sobre os tipos de educação - pedagogias do cultivo e do treinamento - e crescenta a essa formulação a perspectiva de um programa para a mudança da educação.
Fugindo do pessimismo weberiano, o referido autor propõe a educadores e educandos que utilizem a sociologia como embasamento teórico para a compreensão da situação educacional moderna.
Para Mannhiem o pensamento social não pode explicar a vida humana, mas apenas expressá-la. O papel da teoria, portanto, é compreender o que as pessoas pensam sobre a sociedade e não o de propor explicações hipotéticas sobre ela.
O autor defendia uma sociedade que fosse essencialmente de democrática, uma democracia de bem-estar social dirigida pelo planejamento racional e governada por cientistas.
Mannheim também:
* Admite que a racionalização da vida levou a um declínio da educação voltada para a formação do homem integral, mas que o arejamento promovido pela democratização das relações sociais permitiu o surgimento de novas esperanças. Nesse sentido, embora o capitalismo tenha gerado desigualdades sociais, o interesse dos jovens das classes inferiores em ascender socialmente à elite, traz ao processo educacional as contribuições culturais das diferentes camadas sociais e intercomunicação entre elas.
* Percebeu a importância da sociologia na modernidade, para o estudo dos fenômenos educacionais, justamente porque a vida baseada na tradição estava se esgotando. Nas épocas históricas dominadas pela tradição (pré-capitalista) a educação resumia-se a ajudar a criança a ajustar-se à ordem social tradicionalmente estabelecida. Valendo-se da influência da psicanálise, observa que tal processo era apenas de assimilação “inconsciente”, pela criança, do modelo da ordem vigente. Mas quanto mais a tradição vai sendo substituída pela racionalização da vida, provocada pela consolidação da sociedade industrial, mais os conteúdos educacionais devem ser transmitidos num processo “consciente”, em que o educador se aperceba do meio social em que vive e das mudanças pelas quais passa. Para ele, nem os objetivos do processo educacional, nem as metas podem ser concebidos sem a consideração do contexto social, pois eles são socialmente orientados.
* Não concordava com a idéia de que a teoria pode existir apenas pela teoria. Achava que a sociologia poderia servir de base para o aprimoramento da educação.
*‘Queremos compreender nosso tempo, as dificuldades desta Era e como a educação sadia pode contribuir para a regeneração da sociedade e do homem’. (MANNHEIM apud RODRIGUES, 2007, p.82).
* Regenerar de quê? Regenerar a sociedade e o homem dos efeitos perversos que vêm embutidos no processo de racionalização detectado por Weber. Valer-se da compreensão dos diferentes tipos históricos de educação, construídos por Weber, para a montagem de uma pedagogia que dê conta de educar o homem moderno sem arrancar-lhe as possibilidades oferecidas por uma formação integral.
Para Mannheim:
* Não há porque pensar que a pedagogia do cultivo está condenada à morte. Os modos de vida incutidos por esta educação, voltada para a cultura e a erudição, estavam associados ao poder de certas classes privilegiadas “que dispunham de lazer e de energias excedentes para cultivá-la”, e tais classes entraram em declínio com o desenvolvimento do capitalismo e a ascensão da burguesia. Concorda Mannheim que a educação especializada desintegra a personalidade e a capacidade de compreender de modo mais completo o mundo em que se vive. No entanto, argumenta que a grande questão educacional da primeira metade do século XX era saber se os valores veiculados por este tipo de formação são exclusivamente dessas classes ociosas ou se podem ser transferidos em alguma média às classes médias e aos trabalhadores.
* O elemento histórico decisivo na abertura das possibilidades na sociedade atual é político: o advento da democracia moderna.
O que seria essa “educação sadia” para Mannheim?
Mannheim compreende que:
* Existem tendências no sentido de criar padrões melhores de vida. à Os movimentos da juventude são responsáveis pelo desenvolvimento de um ideal de homem “sincero”, interessado numa relação mais autêntica com a natureza e com os outros. A psicanálise é responsável por um novo padrão de vida, com saúde mental, capaz de deixar o homem livre das repressões adquiridas na formação.
* A modernidade não tem apenas custos, ou ameaças à liberdade. Ela traz também esperanças e valores sociais solidários, abertos.
'A principal contribuição de todas as que a moderna democracia é capaz de oferecer é a possibilidade de que todas as camadas sociais venham a contribuir com o processo educacional. E a sociologia é a disciplina, em sua visão, capaz de fazer a síntese dessas contribuições. Por isso é tão importante, para ele, que a sociologia sirva de base à pedagogia'. (RODRIGUES, 2007, p.83).
Mannheim era um homem de seu tempo, em busca de um programa de estudos em sociologia da educação que possibilitasse a formulação de projetos educacionais que ampliassem o horizonte do homem, que superasse as divisões em blocos políticos e ideológicos, que não o satisfaziam. (...) (p.83).
Referência
RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. 6. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.
3 comentários:
Esse texto me ajudou enter melhor as idéias de Mannheim sobre a educação
Não conhecia este teórico da Sociologia e pelo artigo que acabei de ler neste blog, é muito importante o que ele fala a respeito da sociologia e também da educação, como formas de resgatar valor dispersos pela sociedade de consumo.
Como posso referenciar esse post???
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