O orientador é um dos sujeitos fundamentais para o desenvolvimento de qualquer investigação, além do próprio pesquisador. No entanto, seu papel nem sempre é compreendido e somente depois de um tempo, especialmente quando adquirimos experiência e produzimos bons resultados de pesquisa, percebemos a relevância da parceria pesquisador/orientador.
Quando converso com estudantes sobre orientação monográfica recordo da “frustração” que temos quando recebemos as primeiras devolutivas de um anteprojeto. Nesse momento, alguns iniciandos em pesquisa chegam a pensar ou falar a seguinte frase: - poxa, o professor riscou tudo!
Confesso a vocês que quando recebi de minha orientadora a primeira correção do anteprojeto, pensei exatamente isso. Mas tudo bem! Depois do primeiro “trauma” – pois achava que meu projeto estava bom demais - me dispus a ler atentamente as observações realizadas no próprio texto e a corrigir ou ampliar aqueles itens que mereciam atenção.
Para uns, a atitude do orientador de riscar o texto pode representar uma falta de respeito. Penso de outra forma: se um professor acrescenta uma série de observações na produção do orientando é sinal que ele realizou uma apreciação atenta e isso, para mim, é sinal de cuidado. Desconfie, então, daquela orientação que só faz elogios, que não esboçou nenhum rabisco, que diz que está tudo bem logo na primeira versão de sua escrita.
Na graduação fui orientado pela professora Berenice Abreu de Castro Neves (UECE); durante o mestrado fui acompanhado pelo professor Rui Martinho Rodrigues (UFC). Hoje compreendo que os diálogos que tivemos durante a pesquisa com estes educadores, seja por meio de observações escritas ou conversas presenciais, favoreceram em mim gosto pela pesquisa, aprofundamento teórico, desenvoltura em relação a métodos de pesquisa, cuidado com fontes no momento da coleta e da análise de dados, dentre outros.
A pesquisa, portanto, com o acompanhamento do orientador, é essencialmente um momento de formação, de crescimento pessoal na qual a autoria se constrói a quatro mãos. Aliás, durante a pesquisa, o investigador não dialoga apenas com seu orientador. Sua produção, por exemplo, pode (e deve) ter outros interlocutores tais como: colegas que estão desenvolvendo pesquisa ou que se interessam pelo seu tema; os próprios autores que você utiliza para compor o referencial teórico ou que servem para compreender a metodologia e os que realizam correções do emprego da língua portuguesa e das regras de normatização do projeto ou do relatório de pesquisa adotadas pela instituição de ensino a que você pertence.
Compreender a relevância da orientação é um dos passos que precisa ser dado para aqueles estão iniciando uma pesquisa e que desejam realizá-la satisfatoriamente. Para isso, é necessário desenvolver a capacidade de escuta, de aceitar críticas, do diálogo, enfim, da disposição para crescer permanentemente.
Para concluir esta reflexão, cito algumas ideias sobre orientação e pesquisa que, na minha visão, precisam ser descontruídas:
* Solicitar ao orientador um tema de pesquisa.
Por mais experiente que seja o seu orientador, é você quem sabe o que é melhor para você. Nem sempre o que ele considera relevante pesquisar é algo que diz respeito às suas necessidades e mobilizará seu interesse. Um tema deve ser escolhido pelo próprio pesquisador que, em contato com a realidade e apreciações consistentes (teoria) a respeito, depara-se com inquietações.
* Ficar mudando o tema constantemente.
Escolher um bom tema demanda pelo menos algumas leituras da realidade e de textos na área de formação ou interesse. Noto, muitas vezes, em alguns estudantes, certa insegurança e isso o conduz à mudança permanente de tema. Se um iniciante dedica tempo à leitura do tema que mais lhe interessa, poderá definir sua opção e até delinear os primeiros elementos para uma boa pesquisa: tema delimitado, problematizado e acompanhado por objetivos claros.
* Deixar de lado um tema porque outro colega já está pesquisando.
Não há tema cuja compreensão foi esgotada, pois nenhum pesquisador produz verdades, mas interpretações da realidade. Além disso, o tema pode ser o mesmo, mas cada um o apreciará de uma maneira, do lugar que ocupa, isto é, para cada pesquisador haverá uma abordagem, um foco e, portanto, uma descoberta diferente.
* Informar que não há quase nada sobre seu tema, depois de algumas buscas.
Quem disse que pesquisar é fácil? Diria que pesquisar é um desafio que quando superado dá extrema satisfação. Por mais raro que seja o tema escolhido por um pesquisador, haverá sempre alguém refletindo sobre ele. Além disso, nenhum tema vem a nós da maneira como desejamos, isto é, muitas vezes informações/dados a respeito estão dispersas e bem guardadas. Cabe a nós encontrá-las e organizá-las e, para isso, é preciso muita persistência por parte do pesquisador.
* Esperar que o orientador indique literatura e fontes de pesquisa.
Não há duvida que o orientador deve conhecer bem a literatura produzida em torno do tema escolhido por seu orientando. O orientador pode indicar muitas fontes e literatura que embasem a pesquisa, mas o pesquisar também deve ser proativo: acolher indicações, mas realizar suas escolhas, buscando textos e fontes e apresentando-as ao orientador.
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