Já que nestes dias tenho publicado ducumentos que encontrei por meio de pesquisa historiográfica, apresento agora aos leitores do Ateliê de Educadores um documento considerei muito interessante e que oferece indicações interessantes sobre representações do ser educadora nas primeiras décadas do século XX e concepção de educação.
Só para ilustrar, vejamos algumas ideias presentes na oração: nocões sobre o caráter divino do magistério (ideia de que o conhecimento vem de Deus e de que quem ensina tem esta tarefa delegado por Ele, devendo agir com pureza); ideia sobre postura das educadoras (deveria ser dócil, exercendo aquilo que é próprio da maternidade. Resignada diante de qualquer situação adversa, pois a insatisfação conduz é uma ameaça à “ordem”, travando o “progresso”; compreensão das crianças como sujeitos moldáveis pelos valores nos quais acreditava = educação enquanto reprodução linear, transmissão fiel de conhecimentos.
Só para ilustrar, vejamos algumas ideias presentes na oração: nocões sobre o caráter divino do magistério (ideia de que o conhecimento vem de Deus e de que quem ensina tem esta tarefa delegado por Ele, devendo agir com pureza); ideia sobre postura das educadoras (deveria ser dócil, exercendo aquilo que é próprio da maternidade. Resignada diante de qualquer situação adversa, pois a insatisfação conduz é uma ameaça à “ordem”, travando o “progresso”; compreensão das crianças como sujeitos moldáveis pelos valores nos quais acreditava = educação enquanto reprodução linear, transmissão fiel de conhecimentos.
Outros aspectos podem ser apontados por vocês, leitores. Deixem suas colaborações nos comentários, logo abaixo desta postagem.A autora da Oração é Gabriela Mistral e o mesmo foi publicado em 1937, no Jornal O Povo, de Fortaleza - Ceará.
SENHOR,
Tu que ensinaste, perdoa que eu ensino: que use o nome de mestra, que carregaste sobre a Terra.
Dá-me o amor único da minha escola. Que nem a destruição da beleza seja capaz de roubar-lhe a minha ternura de todas as horas.
Mestre, faze duradouro o fervor e passageiro o desengano. Arranca de Mim este impuro desejo de justiça que ainda me turva a mesquinha insinuação do protesto que sobre sobre mim, quando me ferem. Não me doa incompreensão nem me entristeça o esquecimento das alunas que ensinei.
Dá que seja mais mãe do que as mães, para poder amar e defender como elas o que não é carne de minha carne.
Dá que eu consiga fazer de uma de minhas pequeninas meu verso perfeito e deixe gravado minha mais penetrante melodia, para quando meus lábios não cantem mais
Mostra-me a possibilidade do teu Evangelho no meu tempo, para que não renuncie à batalha de cada dia e de cada hora por ele.
Põe em minha escola democracia, o resplendor que aureolava a tua ronda de meninos descalços.
Faze-me forte mesmo em meu desamparo de mulher pobre. Faze-me indiferente a toda aquele que não seja puro a toda pressão que não seja a de tua vontade ardente sobre a minha vida.
Amigo e companheiro, ampara-me!
Muitas vezes não terei sinão a ti ao meu lado. Quando a minha doutrina for mais pura a mais abrazadora a minha verdade, eu me afastares do mundo, porém tu me apartarás contra o teu coração que foi cheio de Solidão e desamparo. Eu não procurarei sinão no teu olhar a doçura da aprovação.
Dá-me simplicidade e dá-me profundidade: livra-me de ser complicada ou banal em minha lição cotidiana.
Dá que eu levante os olhos do meu peito ferido, ao entrar cada manhã em minha escola. Que não leve à minha mesa de trabalho minhas pequenas preocupações materiais, mesquinhas dores de cada instante.
Aligeira-me a mão no castigo e suavisa-a mais ainda na carícia. Repreenda com pesar, para saber que corrigi amando!
Faze-me de revista de espírito a minha escola de ladrilhas.
Envolve a labareda de meu entusiasmo seu átrio pobre, sua sala desnudada.
Meu coração lhe seja mais coluna e minha boa vontade mais ouro das escolas ricas.
E, por fim, recorda-me que ensinar e amar intensamente sobre a Terra é chegar ao último dia com o lancaço de longino no costado ardente de amor.
Referência
MISTRAL, Gabriela. Jornal O Povo. 07 de janeiro de 1937.
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