domingo, 20 de junho de 2010

História da Educação na Antiguidade Oriental

Nas civilizações orientais não havia propostas propriamente pedagógicas. As preocupações com educação apareceram nos livros sagrados, que ofereceram regras ideais de conduta e o enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos e morais.

"(...) As sociedades tradicionalistas, por serem conservadoras, pretendem perpetuar os costumes e evitar a transgressão das normas (...)". (ARANHA, 2006, p. 33).

"Enquanto nas sociedades tribais o saber é difuso, acessível a qualquer membro, nas civilizações orientais, ao se criarem segmentos privilegiados, a população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos, não tem direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante". (ARANHA, 2006, p.33)

A princípio:
+ O conhecimento da escrita era restrito à devido ao seu caráter sagrado e esotérico;
+ Cresceu a procura pela instrução à mas apenas os filhos dos privilegiados atingiam os graus superiores.

Assim, surgiu o dualismo escolar = um tipo de ensino para o povo e outro para os filhos dos funcionários. A grande massa foi excluída da escola e restringida à educação familiar informal.

EGITO
+ Escolas funcionaram nos templos e em algumas casas e foram freqüentadas por pouco mais de 20 alunos cada uma;
+ Predomínio do processo de memorização;
+ Uso constante de castigos.
+ Escolas de Mênfis, Heliópolis ou Tebas – formaram escribas de categoria elevada: funcionários administrativos e legais, médicos, engenheiros e arquitetos.
+ Conteúdos ensinados: informações práticas à cálculo da ração das tropas em campanha, número de tijolos necessários para uma construção, complicados problemas de geometria associados à agrimensura, grande conhecimento de botânica, zoologia, mineralogia e geografia.

"(...) esse volume de informação geralmente não vem acompanhado de questões teóricas de demonstração, nem de princípios ou leis científicas, o que, diga-se de passagem, será a grande contribuição do pensamento grego (...)". (ARANHA, 2006, p.34).
Exemplo: os egípcios conheciam as relações entre a hipotenusa e os catetos de um triângulo retângulo, mas foi o grego Pitágoras que procedeu à demonstração desse teorema, no século VI a.C.

BABILÔNIA
+ Destaca-se a cultura da poderosa classe sacerdotal, bem como a extrema dificuldade que a escrita cuneiforme oferece aos escribas, incumbidos de ler e copiar os textos religiosos à Por isso o aprendizado é longo, minucioso e voltado para a preservação desse língua, que sofreu apenas alterações insignificantes durante três milênios.
+ Os babilônicos:
- Construíram bibliotecas;
- Tinham amplo conhecimento de astrologia;
- Não descuidavam das aplicações do conhecimento, assim como os egípcios.
+ Os estudos científicos babilônicos vinham sempre mesclados com magia e adivinhação.

ÍNDIA
"(...) a importância da tradição hindu está no fato de ter permanecido viva até os dias de hoje, por meio da herança de duas das principais religiões do mundo, o bramanismo e o budismo: ‘longe de pertencer inteiramente a um passado encerrado, como as glórias defuntas do Egito e da Babilônia, a aventura hindu prossegue sob nossos olhos." (p.34)
Hinduísmo:
+ Fundamenta-se nos livros sagrados dos Vedas à Rig-Veda (o livro mais antigo – talvez do terceiro milênio a.C.); Upanishads (textos mais recentes – entre 1500 e 500 a.C.);
+ Compreende que os seres e os acontecimentos são manifestações de uma só realidade chamada Brahman, alma ou essência de todas as coisas.
Enquanto nas civilizações orientais as divisões de classe são marcantes, na Índia a população é dividida em castas fechadas: os brâmanes (sacerdotes), os xátrias (guerreiros nobres), os vaicias (agricultores e comerciantes) e os sudras (servos dedicados aos serviços mais humildes).
"Devido à crença de que todos saíram do corpo do deus Brahma, os brâmanes são considerados mais importantes por terem sido gerados da cabeça do deus. No outro extremo, os párias, por sequer terem origem divina, não pertencem a qualquer casta e por isso são intocáveis e reduzidos a uma condição miserável". (ARANHA, 2006, p.34).
+ A educação hindu privilegia os brâmanes;
+ Os brâmanes são encaminhados por mestres e aprendem os textos sagrados dos Vedas e dos Upanishads;
+ As outras castas podem receber educação elementar, com exceção dos sudras e dos párias;
+ A educação na Índia foi influenciada, também, pelo Budismo (religião fundada no século VI a.C., por Sidarta Gautama, o Buda = Iluminado);
+ A doutrina budista:
- Tem caráter mais espiritualizado e valoriza, sobretudo, a relação entre mestre e discípulo;
- Expandiu-se para inúmeras regiões da Ásia, atingindo China e Japão.
- A partir dos anos 50 passou a exercer forte influência na juventude norte-americana, desgostosa com o modo de vida ocidental.

CHINA
"A história da China revela uma das mais tradicionais culturas, que se mantiveram sem grandes mudanças mesmo até tempos recentes. É inevitável que a educação também reproduzisse esse caráter conservador, voltado para a transmissão da sabedoria contida nos livros clássicos, ainda que burilada por interpretações posteriores de outros sábios". (ARANHA, 2006, p.35).
Livros canônicos ou clássicos:
+ O mais antigo: I Ching (Livro das Mutações) à remonta ao terceiro milênio a.C;
+ De onde os sábios buscam inspiração e conceitos, como é o caso de Lao Tsé e Confúcio (século VI a.C.).
Lao Tsé:
+ Fundou o taoísmo a partir da noção do Tao (originalmente significa o Caminho) e dos princípios opostos yin e yang (Mais do que opostos, representam a união dos contrastes, um todo de duas metades, a harmonia que forma o Universo).
Kung Futsé (Confúcio):
+ Segue uma orientação mais conservadora que Lao Tsé.
+ Como sábio e professor, se ocupa com especulações voltadas para a aplicação prática na vida humana e, nesse sentido, exerce importante influência na formação moral dos jovens chineses.
Na China os letrados não são os sacerdotes, mas os mandarins (altos funcionários de estrita confiança do imperador e responsáveis pela máquina administrativa do Estado) à O sistema de seleção para esse ensino superior é extremamente rigoroso, baseado em exames oficiais que distribuem os candidatos nas diversas atividades administrativas.
A educação elementar visa à alfabetização, muito difícil e demorada devido ao caráter complexo da escrita chinesa. Também é ensinado o cálculo e oferecida a formação moral por meio da transmissão dos valores dos ancestrais. Tudo é feito de maneira dogmática, com ênfase nas técnicas de memorização. (ARANHA, 2006, p.35 e 36).

HEBREUS
Os Hebreus estão impregnados da religiosidade e da ação dos profetas, seus primeiros educadores. De início as sinagogas servem de local para a instrução religiosa, em que se dizem as verdades da Bíblia.
"(...) os documentos bíblicos têm inevitável interesse histórico e, não somente nos fazem conhecer os valores morais e jurídicos do povo hebreu, como ajudam a compreender as raízes judaico-cristãs da cultura ocidental". (ARANHA, 2006, p.36).
O que distingue os hebreus dos demais povos antigos?
+ A superação da concepção politeísta, admitindo a existência de um só deus, Javé (ou Jeová);
+ A introdução da noção de individualidade (enquanto as outras civilizações não destacam propriamente a individualidade, por estarem seus membros mergulhados nas práticas coletivas, os hebreus desenvolvem uma nova ética voltada para os valores da pessoa e para a interioridade moral.);
+ A importância de todo e qualquer ofício e o reconhecimento do valor da educação manual.
Citações a respeito:
“A mesma obrigação tens de ensinar a teu filho um ofício como a de instruí-lo na Lei”.
“É bom acrescentar a teus estudos o aprendizado de um ofício; isso te ajudará a livrar-te do pecado”.

Em relação ao tópico 2, acima relacionado, vejamos o exemplo do Egito, citado por Manacorda (1989, p.13):
“Mais do que à consciência interior, a moralidade parece dirigida às relações interpessoais; o emendar-se perante os próprios olhos parece subordinado à oportunidade de não ser corrigido por outro. A universalidade do ensinamento moral parece sofrer o condicionamento social, já que se dirige a uma casta particular de indivíduos”.

O PENSAMENTO ORIENTAL HOJE
Tentativas de aproximação ao pensamento oriental hoje à críticas contemporâneas às conseqüências da extrema e unilateral valorização da razão.
"(...) o desenvolvimento da ciência e da técnica trouxe a ilusão de que fora delas não haveria saber ou poder possíveis. Da mesma forma, o capitalismo desenfreado tudo submeteu aos valores do lucro e da competição. Daí resultaram o cientificismo, a tecnocracia, a sobreposição do mundo dos negócios à vida afetiva.
Por isso, o homem contemporâneo se acha mal consigo mesmo. Dono de um saber que vem da ciência e de um imenso poder sobre a natureza, na verdade lhe escapa o sentido de sua própria existência. Sabe muito bem como fazer, mas nem sempre para que e por quê (...)". (ARANHA, 2006, p.36).

Esses motivos levaram alguns jovens de países mais abastados, a partir dos anos 1950, a iniciarem um movimento de contracultura, opondo-se ao modo de vida do homem da era tecnológica.
Exemplo: o movimento estudantil de maio de 1968 na França sofreu influências as mais diversas, dentre as quais a de segmentos da contracultura com inspiração oriental.

REFERÊNCIA
ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna, 1996.

sábado, 19 de junho de 2010

A professora e o secretário de Educação

Hoje recebi um e-mail com a história abaixo e como gostei muito, pensei em compartilhar com os leitores deste blog. Quem souber quem é o autor desta e puder informar, ficarei agradecido. Lá vai a história!

Havia certa vez um homem navegando com seu balão, por um lugar desconhecido. Ele estava completamente perdido, e qual grande foi sua surpresa quando encontrou uma pessoa...
Ao reduzir um pouco a altitude do balão, em uma distância de 10m aproximadamente, ele gritou para a pessoa:
- Hei, você aí­, aonde eu estou?
E então a jovem respondeu:
- Você está num balão a 10 m de altura!
Então o homem fez outra pergunta:
- Você é professora, não é?
A moça respondeu:
- Sim...puxa! Como o senhor adivinhou?
E o homem:
- É simples, Você me deu uma resposta tecnicamente correta, mas que não me serve para nada...
Então a professora pergunta:
- O senhor é secretário da educação, não é?
E o homem:
- Sou... Como você adivinhou???
E a Professora:
- Simples: o senhor está completamente perdido, não sabe fazer nada e ainda quer colocar a culpa no professor.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Histórias de Avaliação

Uma recordação
Estava no primeiro semestre do curso de Licenciatura em História. O professor marcou uma prova para um sábado. Por conta disso, naquele dia, poucos colegas compareceram.
Desde o primeiro encontro o professor adotava práticas que ao nosso ver o tornava uma pessoa intransigente. Naquele dia não foi diferente. No momento em que ele entregava a prova comunicou para nós o seguinte:
- Cuidado para não errar nenhuma questão, viu? É que resolvi adotar um critério para a avaliação: uma questão errada elimina uma questão correta.



Uma história que me contaram
Certo dia o professor entregou aos seus alunos algumas provas corrigidas.
Uma estudante, ao receber sua produção e perceber que a mesma estava repleta de observações em verde, resolveu solicitar ao professor informações a respeito.
Professor, porque há tantas anotações suas em minha prova em verde?
- Ora, querida! É simples. Isso é a quantidade de capim que você tem que comer!



Essas histórias são exemplos de práticas sociais relacionadas à avaliação escolar. Esperamos que eles já tenham sido superadas.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Jogral - O guardião das fronteiras

Narrador 01: No lugar do posto de controle de saída da fronteira, o guardião do país vizinho pediu que o estudioso de Ecologia Cognitiva mostrasse seu passaporte, chamando-o:

Guardião das fronteiras: - Ei, você, faz o quê?

Narrador 01: A resposta foi:

Estudioso: - Apesar do meu nome, não trabalho exatamente com Ecologia, mas com o conhecimento.

Guardião das fronteiras: - Negativo: há muito a Filosofia se encarrega disso. Vá pleitear a sua saída pela outra porta.

Estudioso: - Espere; entendo o conhecimento de uma forma ampla. Ocupo-me dos signos, de todos os vestígios sensíveis ligados às intenções na produção e atribuição de sentidos, explicou o estudioso.

Guardião das fronteiras: - Ora, isto é o que faz a Semiologia. Você está querendo burlar a segurança?

Estudioso: - Absolutamente! De fato alguns teóricos trabalham sobre o sentido dos signos. Mas interessam-me mais diretamente as relações de poder que são travadas na arena da comunicação.

Guardião das fronteiras: - Hum... Sim, já entendo, trata-se então de Filosofia da Linguagem.

Narrador 02: O estudioso ousou especificar um pouco mais a sua ação e disse:

Estudioso: - Sim, a Filosofia da Linguagem, em especial a corrente pragmática, aborda esse tema com muita propriedade, mas concentrando-se no que é produzido no decorrer da comunicação entre os interlocutores. Quanto ao mim, procuro fixar-me em algo que vai além, buscando verificar como as idéias se transmitem e interagem entre si por meio de palavras, imagens e sons articulados, em toda a riqueza dos signos, para, então, discutir como o pensamento tem sido produzido. Trata-se de entender as dimensões técnicas e coletivas da cognição.

Narrador 02: O soldado sorriu com desdém.

Guardião das fronteiras: - “Ah, é a cognição. Ora, então você é um estudioso da Educação”.

Estudioso: - De certo modo, sim, mas apenas se considerarmos a Educação compreendida em seus novos ambientes e espaços, nos quais um novo sujeito, digamos, coletivo, se movimenta... E para compreendê-la dessa forma devemos derrubar algumas das fronteiras e construir elos com a Filosofia, com a Semiologia e com outras disciplinas das quais herdei também algumas questões, como a Lingüística, ou a Psicologia. Na verdade não há como conceber a Ecologia cognitiva sem falar das redes de conhecimento, e não há como estudar ou entender tais redes sem antes permitir também as interconexões em nossos próprios campos.

Narrador 02: E o estudioso terminou dizendo:

Estudioso: - Por isso, não solicito apenas que autorizes minha passagem, como também te peço, em nome de todos os que desenvolvem pesquisas neste momento, que te despeças da tua função, pois para exercer a minha prática e levar adiante a pesquisa, não será possível que haja guardiões de fronteiras entre os países que visito.

Narrador 01: O guarda já ia expulsar o forasteiro, pela insolência da fala, vindo a perturbar-lhe a paz que há tanto conhecia naquele espaço-limite, quando aconteceu o inusitado: viu que atrás do Ecologista Cognitivo, e pelos lados, e mais adiante, e também por muitas vertentes, aproximavam-se multidões de cientistas e pesquisadores e professores, todos numa rebelião não-organizada contra as cancelas das fronteiras, e tinham os nomes metamorfoseados: não mais ostentavam carteira de identidade de comunicador, de sociólogo, ou de historiador, ou de cientista, mas de coisas estranhas, como educomunicador, engenheiro do conhecimento, historiador das idéias, arquiteto cognitivo, sociólogo da linguagem e coisas nesse estilo.

Narrador 02: Viu que outros dos seus colegas tentavam reagir, mas era inútil. O companheiro vizinho era desafiado por um sociotecnólogo, enquanto recebia a notícia de que legiões de historiadores das mentalidades haviam invadido um terreno proibido. Psicolingüistas atacavam pelo outro lado e, já sem receber maior resistência, um grupo de arte-educadores se preparava para ocupar a praça.

Narrador 01: E assim, apesar de esboçar uma reação inicial, os guardiões das fronteiras não tiveram outra opção a não ser retirar-se, resignados, deixando que fossem, por fim, apagadas as linhas tênues que marcavam os limites entre os países de uns e de outros. Foi quando as portas se abriram e começou a história.

O caso do Miguel

Disponibilizo agora a dinâmica "Caso do Miguel", que considero muito boa para provocar reflexões sobre interdisciplinaridade.

A. Objetivo
Demonstrar o modo de julgar e avaliar.



B. Disposição no espaço
Cinco equipes.



C. Materiais
Fotocópia dos textos do anexo.



D. Procedimentos
Não são raras às vezes em que nós mesmos nos assustamos com nossa permanente capacidade de julgamento. Na verdade, vivemos julgando pessoas e coisas. Vivemos mensurando e avaliando tudo o que encontramos pela frente, como um radar atento. Não raro, também, equivocamos-nos escandalosamente.
Que efeito esta nossa faceta produz sobre o grupo no qual convivemos? Sobre qual base lógica nos situamos para proceder a estes juízos e estas aferições? É a lógica que nos torna capazes de organizar nossas idéias a ponto de enxergarmos com maior clareza determinadas situações. O sociólogo David Willian Carraher defende que para pensarmos criticamente é necessário sermos perspicazes, enxergarmos, além das superfícies, questionarmos onde não há perguntas já formuladas e ver prismas que os outros não vêem.
Divida o grupo em cinco (05) equipes e distribua entre elas os cinco textos apresentados logo adiante. Estabeleça um prazo de dez (10) minutos. Nesse período cada equipe terá a tarefa de julgar ou avaliar o comportamento de um certo Miguel, observando em diferentes momentos de um dia descrito nos textos. Acompanharão o comportamento de Miguel por meio dos relatos de sua mãe, da faxineira, do zelador do edifício, do motorista de táxi e do garçom da boate que ele freqüenta.
Encerrado esse prazo, proponha que as equipe, uma a uma, façam seu relato descrevendo como perceberam Miguel. Havendo predisposição para uma rápida discussão após os relatos, torna-se interessante fazê-la. Depois disso, requisite atenção de todos para que você leia o relato do próprio Miguel sobre o que ocorreu naquele dia.
Proponha discussão acerca das observações feitas anteriormente pelas equipes, tendo por base os argumentos no parágrafo inicial desse Encontro. Esgotando-se 25 minutos, encerre a atividade.



Relatos
De sua mãe
Miguel levantou-se correndo, não quis tomar café e nem ligou para o bolo que eu havia feito especialmente para ele. Só apanhou o maço de cigarros e a caixa de fósforos. Não quis colocar o cachecol que eu lhe dei. Disse que estava com pressa e reagiu com impaciência a meus pedidos para que se alimentar e abrigar-se direito. Ele continua sendo uma criança que precisa de atendimento, pois não reconhece o que é bom para si mesmo.
Após o relato, como a equipe percebe Miguel?



Do garçom da boate
Ontem à noite ele chegou aqui acompanhado de uma morena, bem bonita, por sinal, mas não deu a mínima bola para ela. Quando entrou uma loura, de vestido colante, ele me chamou e queria saber quem era ela. Como eu não conhecia, ele não teve dúvidas: levantou-se e foi à mesa falar com ela. Eu disfarcei, mas só pude ouvir que ele marcava um encontro, às 9 da manhã, bem nas barbas da acompanhante dele. Sujeito, peitudo!
Após esse relato, como a equipe percebe Miguel?



Do motorista de táxi
Hoje de manhã, apanhei um sujeito e não fui com a cara dele. Estava de cara amarrada, seco, não queria nem saber de conversa. Tentei falar sobre futebol, política, sobre trânsito e ele sempre me mandava calar a boca, dizendo que precisava se concentrar. Desconfio que ele é daqueles que o pessoal chama de subversivo, desses que a polícia anda procurando ou desses que assaltam motorista de táxi. Aposto que anda armado. Fiquei louco para me livrar dele.
Após esse relato, como a equipe percebe Miguel?



Do zelador do edifício
Esse Miguel, ele não é certo da bola não. Às vezes cumprimenta, às vezes finge que não vê ninguém. As conversas dele a gente não entende. É parecido com um parente meu que enlouqueceu. Hoje de manhã, ele chegou falando sozinho. Eu dei bom dia e ele me olhou com um olhar estranho e disse que tudo no mundo era relativo, que as palavras não eram iguais para todos, nem as pessoas. Deu um puxão na minha gola e apontou para uma senhora que passava. Disse, também, que quando pintava um quadro, aquilo é que era a realidade. Dava risadas e mais risadas... Esse cara é um lunático!
Após esse relato, como a equipe percebe Miguel?



Da faxineira
Ele anda sempre com um ar misterioso. Os quadros que ele pinta, a gente não entende. Quando ele chegou, na manhã de ontem, me olhou meio enviesado. Tive um pressentimento ruim, como se fosse acontecer alguma coisa ruim. Pouco depois chegou a moça loura. Ela me perguntou onde ele estava e eu disse. Daí a pouco ouvi ela gritar e acudi correndo. Abri a porta de supetão e ele estava com uma cara furiosa, olhando para ela cheio de ódio. Ela estava jogada no divã e no chão tinha uma faca. Eu saí gritando: Assassino! Assassino!
Após o relato, como a equipe percebe Miguel?

Relato do próprio Miguel sobre o ocorrido nesse dia
Eu me dedico à pintura de corpo e alma. O resto não tem importância. Há meses que eu quero pintar uma Madona do século XX, mas não encontro uma modelo adequada, que encarne a beleza, a pureza e o sofrimento que eu quero retratar. Na véspera daquele dia, uma amiga me telefonou dizendo que tinha encontrado a modelo que eu procurava e propôs nos encontrarmos na boate. Eu estava ansioso para vê-la. Quando ela chegou fiquei fascinado; era exatamente o que eu queria. Não tive dúvidas. Já que o garçom não a conhecia, fui até a mesa dela, me apresentei e pedi para ela posar para mim. Ela aceitou e marcamos um encontro no meu ateliê às 9 horas da manhã. Eu não dormi direito naquela noite. Me levantei ansioso, louco para começar o quadro, nem pude tomar café, de tão afobado.
No táxi, comecei a fazer um esboço, pensando nos ângulos da figura, no jogo de luz e sombra, na textura, nos matizes... nem notei que o motorista falava comigo.
Quando entrei no edifício, eu falava baixinho. O zelador tinha falado comigo e eu nem tinha prestado atenção. Aí, eu perguntei: o que foi? E ele disse: bom dia! Nada mais do que bom dia. Ele não sabia o que aquele dia significava para mim. Sonhos, fantasias e aspirações... Tudo iria se tornar real, enfim, com a execução daquele quadro. Eu tentei explicar para ele que a verdade era relativa, que cada pessoa vê a outra à sua maneira. Ele me chamou de lunático. Eu dei uma risada e disse: está aí a prova do que eu disse. O lunático que você vê, não existe. Quando eu pude entrar, dei de cara com aquela velha mexeriqueira.
Entrei no ateliê e comecei a preparar a tela e as tintas.
Foi quando ela chegou. Estava com o mesmo vestido da véspera e explicou que passara a noite em claro, numa festa.
Aí eu pedi que sentasse no lugar indicado e que olhasse para o alto, que imaginasse inocência e sofrimento... que...
Aí ela me enlaçou o pescoço com os braços e disse que eu era simpático. Eu afastei seus braços e perguntei se ela tinha bebido. Ela disse que sim, que a festa estava ótima, que foi pena eu não ter estado lá e que sentiu a minha falta. Enfim, que estava gostando de mim. Quando ela me enlaçou de novo eu a empurrei e ela caiu no divã e gritou.
Nesse instante a faxineira entrou e saiu berrando: Assassino! Assassino!
A loura levantou-se e foi embora. Antes, me chamou de idiota. Então, eu suspirei e disse: ah, minha Madona!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Pedagogia e docência

A docência está intimamente ligada à pedagogia porque ambas lidam com educação. No entanto, a história da educação brasileira no século XX foi marcada pela fragmentação entre ensino e gestão escolar. Nesse sentido, coube a alguns pedagogos o papel de técnicos em educação e a outros (com formação pedagógica complementar ou habilitação para o magistério) ou licenciados, a docência, isto é, os técnicos se encarregaram pela gestão, planejamento, coordenação e avaliação, enquanto os docentes ficaram com a execução, muitas vezes restrita à sala de aula.


Trabalhando atualmente com formação de educadores num projeto de âmbito nacional percebo que esta separação ainda se faz muito presente. Noto, por exemplo, que alguns educadores têm dificuldade e até resistência em relação ao planejamento escolar por considerá-lo uma atividade complexa e até mesmo desnecessária. Nas escolas regulares, geralmente, isso não é muito diferente, embora saibamos que já existem experiências significativas de planejamento, tendo em vista a promoção de ações educativas de cunho transformador.


Com a aprovação das Novas Diretrizes para o curso de Pedagogia (2005/2006) as atribuições próprias dos especialistas em educação foram assimiladas à função docente. Assim, todo pedagogo tem hoje como base de sua formação a docência, mas uma docência que deve estar preparada para atuar tanto no ensino, como na pesquisa e na gestão. Martins (2009) expõe claramente este novo conceito de docência defendido nas referidas diretrizes: “(...) docência que vai além do mero exercício prático e metodológico de algumas ‘técnicas’ de ensino, que não se originam nem se findam no cotidiano das salas de aula. Tem-se, assim, a possibilidade de ampliar o ato educativo da docência para uma atividade educativa de fato, em seu sentido mais pleno e não circunscrito à escola (...)”.

O referido autor defende esta perspectiva, apontando-a como guiada pelo princípio da totalidade, mas lembra que as diretrizes não são uma garantia para viabilizar tais práticas.


Referência
MARTINS, Fernando José. Pedagogia e docência no Brasil. II Congresso Internacional do CIDInE: Novos contextos de formação, pesquisa mediação. 2009. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2009.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Campos de atuação do Pedagogo - Breve abordagem histórica

Quanto comecei a lecionar em cursos de Pedagogia, a indagação “depois de formado, poderei lecionar?” era uma das mais freqüentes entre os educandos. Se refletirmos sobre momentos da história da formação de pedagogos no Brasil, compreenderemos porque esta dúvida persistiu até pouco tempo. Em 1939, por exemplo, quando se instituiu o curso de Pedagogia na Universidade do Brasil, por meio do Decreto-Lei n° 1.190, de 04 de abril, o mesmo foi delineado para preparar especialistas em educação. Assim, a docência foi tratada como um ponto secundário, complementar para a formação do pedagogo, isto é, caso o egresso do referido curso desejasse exercer a docência, deveria cursar, além dos três anos de bacharelado, mais um ano de formação pedagógica.

No parecer do Conselho Federal de Educação de n° 251/1962, o modelo anterior foi extinto, propondo a introdução de disciplinas pedagógicas no decorrer do curso de Pedagogia, o que possibilitou a existência das modalidades licenciatura e bacharelado. A partir deste parecer os egressos da licenciatura puderam exercer a docência nos cursos normais secundários.

O parecer de n° 252/1969 definiu com mais propriedade o campo profissional do pedagogo. Portanto, inicialmente extinguiu a figura do bacharel em Pedagogia, confirmando a sua atuação como docente na formação para o magistério de segundo grau. Além disso, o referido parecer criou habilitações a serem proporcionadas no decorrer do curso de Pedagogia (magistério das disciplinas pedagógicas do segundo grau, orientação educacional, administração escolar, supervisão escolar e inspeção escolar). Com essa iniciativa a idéia do pedagogo como um técnico em educação foi se consolidando, distante desse profissional enquanto docente.

Com as Diretrizes Nacionais para os cursos de graduação em Pedagogia, instituídas pelo parecer n° 005, de 13 de dezembro de 2005 e por meio da Resolução 001, de 15 de maio de 2006 do Conselho Nacional de Educação, a função docente tornou-se o objetivo central para a organização do curso de Pedagogia e, por conseguinte, para a atuação de seus egressos. No segundo parágrafo deste documento a abrangência e a atuação do pedagogo foram definidas da seguinte maneira: “As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade normal, e em cursos de educação profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.” (BRASIL, 2006, p.1).

Com base nas informações acima relacionadas, podemos perceber que o campo de atuação de pedagogo encontra-se hoje repleto de múltiplas possibilidades, tais como: docência na educação infantil, nos primeiros anos do ensino fundamental (primeiro ao quinto ano), na modalidade normal em nível médio; gestão escolar; planejamento educacional em organizações diversas, como escolas, hospitais, empresas e instituições públicas e privadas; função pedagógica na área de recursos humanos; atividades de pesquisa na área educativo-social; elaboração e gestão de projetos educacionais em Organizações Não-Governamentais; alfabetização de jovens e adultos, dentre outros.

Referência
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução 003/2006 – Reexame das Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia. Brasília: Março, 2006.

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